Eu adorava sonhar acordada.
Passei a minha infância inteira sonhando. Sonhava com uma casa linda. Ela era moderna e estava no meio de um bosque.
Eu sonhava tanto com essa casa que quando eu fui fazer meu teste vocacional, só de olhar a casa que desenhei, a psicóloga me indicou arquitetura. Mas tive medo das áreas exatas, particularmente da matemática, à qual não era muito afeita. Fui para a Psicologia onde tinha aquela parcela de Humanas com a qual me sentia em casa.
A garota Ely não realizou seu sonho, mas tive um apartamento lindo de cobertura. E depois me mudei para uma casa de vila charmosíssima. Agora moro num apartamento grande rodeado de prédios e com uma nesga por onde posso ver o céu. E estou gostando de morar lá.
O sonho de garota ficou na infância e na lembrança, pois até hoje sou capaz de desenhar a casa desejada. É isso, ei-la:

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Imagens, escrita e fala são manifestações diferentes. Sempre fui de imaginar mais que falar ou escrever. Sempre vi antes das palavras. Sempre tive facilidade em visualizar ou imaginar (pensar com imagens). As palavras sempre vieram depois.
É mais fácil me lembrar de uma cena do que de uma idéia. Atualmente, se consigo captar um pouquinho da cena, consigo completar a lembrança.
O desenho abaixo, fiz numa aula do Matuck, com modelo vivo. O que , neste dia, chamou-me a atenção foi o rosto forte e marcante da modelo, que era uma modelo nova, morena, alta e mais velha que a que costuma ir.
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Já tinha estudado anatomia e fisiologia, mas não tinha a menor idéia de como era viver com o cérebro lesado.
Em um dia de outubro de 2007, já tinha atendido dez pacientes, quando no final do dia, tive um troço: caí deitada na sala do consultório, em posição praticamente fetal.
Fui acordar no hospital, depois de ter passado alguns dias em coma. Lembro vagamente da sala da UTI. Lembro da luz fininha e das janelas à direita. Os médicos e enfermeiros vinham sempre pela esquerda. Lembro dos meus filhos, do Pedro e da Ana, que choravam muito. Eu estava tranqüila, mas tinha uma ansiedade subjacente, porque queria sair de lá e voltar para a casa. Não tinha noção do que me acontecia, nem que eu iria ficar paralisada na cama.
Caiu a ficha quando eu fui para a casa de minha mãe. Queria andar e não conseguia e queria comer sozinha e não tinha coordenação para tal. Coisas simples, mas que naquele momento eram muito complicadas.
Eu me sentia mergulhada numa densa nuvem. Sabe aquele velhinho do Amarcod, do Fellini, quando ele sai numa manhã enevoada e acha que morreu? A minha névoa era a mesma. Tinha clareza de que estava viva, mas ALGO tinha acontecido.
Sempre tive uma memória de elefante. Tinha trinta e cinco pacientes e mais um grupo de supervisão. Lembrava de tudo e de todos, os sonhos, os diagnósticos, as queixas e hoje, é justamente o que me falta: minha memória.
Hoje minha memória é de passarinho. As coisas que me impactam ficam. O resto se perde nas águas do recém-acontecido. Sou capaz de me lembrar de coisas que aconteceram há trinta anos e não sou capaz de dizer sobre o dia anterior.
Sou capaz de lembrar do presente que recebi do namorado aos quatorze anos, coisa que ele próprio é incapaz, mas não consigo me lembrar do que ele disse ontem.
___________________________________________________09/03/09
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Antes de passar para a tinta, é melhor passar para o papel. Quando o trabalho é muito limpinho, ele some. Quando é mais orgânico, é mais visceral.
Numa aula, de modelo vivo, ela posou com um guarda-chuva. Foi o momento que eu quis retratar. Se fosse pensar em resultado, nenhum artista pintava. Fui olhando o modelo e desenhando. Deu nisso, e eu gostei.
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April 27th, 2009 · 1 Comment
Em algumas pessoas eu imagino que sim. Por algum desvio de personalidade, que chamamos psicopatia, imagino que mentes torpes existam e criem situações pesadas.
Ao ler o artigo de Dulce Critelli (Folha Equilíbrio – 02/04/2009), lembrei-me de algo dessa ordem que aconteceu com minha mãe: um suposto sequestro relâmpago da minha irmã Bia.
Minha mãe me ligou logo após o almoço, pedindo que eu fosse buscar muito dinheiro no banco. Dinheiro vivo, que deveria estar numa bolsa e não ser em números sucessivos. Fiz correndo o combinado e quando voltei para a casa da minha mãe, o engano já estava desfeito e a Bia já tinha sido encontrada.
Para mim não há prazer em praticar o mal, mas para os bandidos acredito que sim. Para acabar com isso, somente muita terapia, muita educação, muita ajuda, muita prisão e muita religião.
_________________________________________06/04/09
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April 27th, 2009 · 1 Comment
Hoje, a minha memória que era de elefante, virou de passarinho. De um tico-tico bobo. Tudo fica boiando na minha cabeça, até que de repente alguma coisa emerge. Em geral, é a imagem do fato vivido que brota espontaneamente ou surge a partir de uma pergunta.
Por exemplo, se eu tenho de lembrar do meu aniversário, eu fixo a imagem do lugar e vou associando outras imagens do que aconteceu: onde eu sentei, o que eu comi (fixando na imagem do prato, acho que foi penne com ragu de cordeiro)
Hoje de manhã, eu acordei e Ana Rosa estava em casa. Eu queria tomar café na padaria e ela disse: você acha que é fim de semana todo dia???
_____________________________________02/03/09
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April 27th, 2009 · 1 Comment
Nos primeiros dias de AVC, minha consciência se tornou obnubilada. Eu estava em outra. Todos os fatos aconteciam à distância. Era como se eu não participasse realmente. E é assim até hoje. Hoje, sou mais presente, mas guardo essa distância.
Antes do AVC eu era envergonhada, extremamente envergonhada, não gostava nem de dar avisos no Centro de Dharma. Hoje, oscilo entre a total sem-vergonhice, sem noção, e a total vergonha. Se vejo alguém comendo um doce que me apetece, sou capaz de ir lá e arrancar o doce da mão da desconhecida e comê-lo. Mas também, se estou num restaurante e vejo que caiu um pedaço de comida de minha boca, fico travada de tanta vergonha, sem ter nenhuma ideia luminosa do que fazer.
Hoje não há conexão entre os eventos da minha vida. Posso ir a um lugar de que gosto muito, mas ao sair de lá, já não me lembro mais.
__________________________________________________16/02/09
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November 17th, 2008 · 3 Comments
Estamos à espera e à procura. Pode demorar, mas vamos encontrar um lugar legal, como foi a Batatais e a Vila. No karma, temos de esperar amadurecer as causas e as condições para que algo aconteça. É o que estou esperando. Bjos,
mom
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E daí, num belo dia, sem mais nem menos, o Pedro chegou em casa, dizendo para eu me aprontar porque íamos procurar apartamanto para eu morar. E aí começou o meu calvário: prédios horrorosos, apartamentos velhos e escuros. E, justo eu, que tinha morado num palacete, de onde saí para uma cobertura e de onde saí para uma simpática casinha de vila na Vila Madalena. Eu até entendo a necessidade da saída da casa, mas não quero ir para um buraco mofado. Estou exagerando???
beijo beijo,
Ely
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October 20th, 2008 · 1 Comment
Mesa posta, comidinhas feitas pela chef Diana, fomos todos para o terraço, quando ela entrou triunfal, ao som de Parabéns a você. Muita emoção e felicidade. Assim começou a festa supresa dos 84 anos de minha mãe, Lucilla.
Somos quatro filhos e dez netos, dos quais se fizeram presentes: os quatro filhos, cinco netos e um bisneto, que é loiro de cabelo cacheado.
A casa em que minha mãe mora sempre foi palco de muitas festas, muitos jantares: lá fiz quinze anos e lá foi a recepção do meu casamento e também do casamento do um de meus filhos. Grandes festas que deixaram boas recordações…
Apesar da chuva fina, a festa foi ótima. Estávamos todos felizes: o terraço cheio de mesinhas ficou alegre, funcional e acomodou a todos. A comida estava deliciosa e o tempo melhorou à noite.
Minha mãe, como sempre, recebeu a todos com simpatia e alegria. Ela sempre sabe das últimas descobertas, principalmente em relação à saúde. Em geral, quer dar um remédio novo para todo mundo. Mas nesse dia, não queria, queria só curtir a presença de todos.
Este domingo foi um dia corrido e trabalhoso para mim, mas valeu pela alegria que víamos no rosto de minha mãe.
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